quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MITOS MESOAMERICANOS - O Nascimento do quinto sol




O mito da criação do quinto sol tem como seu cenário a antiga cidade de Teotihuacán, que iria dominar o imaginário dos povos do vale do México. Nele encontramos personagens da cosmologia Tolteca e não há nenhuma referencia ao deus guerreiro mexica (asteca) Huitzilopochtli, que seria associado mais tarde ao próprio sol e seus diversos mitos. Tal relato provavelmente se espalhou pelos primeiros povos de língua náhualt que colonizaram o vale do México, o que não implica dizer que os mexicanos iriam rejeitar essa cosmologia, pelo contrario são diversos mitos de origem mexicana que faz uma ponte com o mito tolteca do surgimento do quinto sol e nesse mito especifico não se pode deixar de nota os elementos essenciais que fariam parte do sincretismo religioso que os mexicanos iriam sofrer. O povo do sol iria modificar esse mito criando a sua maneira de ver o mundo mais os elementos essenciais como; o sacrifício, a luta entre o sol e a lua iria adentrar o mundo mítico mexicano e estará presente com uma nova roupagem em seus próprios mitos.
Teotihuacán é concebida como o centro do mundo e a morada dos deuses, o próprio nome da cidade assim como das duas principais pirâmides fora dado pelos mexicanos e seu significado quer dizer; morada dos deuses. Uma tradução moderna como nos sugeri Drew David quer dizer “lugar daquele que possui caminho até os deuses”. Para os mexicanos, assim como os povos do vale tudo começara ali, o quinto sol e o esplendo da cultura náhualt em todos seus aspectos deram o primeiro passo nessa grande metrópole.
Os mexicanos jamais viram Teotihuacán em funcionamento, pois quando eles a encontraram ela já se quedava abandonada a mais de 500 anos, contudo a grandiosidade da antiga metrópole impressionou os povos do vale do México, que não tiveram duvida de enxergar aquele lugar como o gênese de todos os povos, pois se os deuses algum dia vivera entre nós, Teotihuacán era com certeza a sua morada e essa idéia iria persisti na mentalidade mexicana, que tentaria criar em sua capital uma réplica do antigo poder da grande metrópole. De fato Teotihuacán fora a maior metrópole da America e sua influência pode ser vista nos murais de cidades mayas como Tikal, Copán e na arquitetura de Chichen itza, todavia toda essa grandeza se encontrava no esquecimento e sua existência passara a residi no mundo dos mitos e no imaginário popular. Mais suas tradições foram passada para sua cidade herdeira, a cidade de Tula, e esta por sua vez introduziu boa parte de seu pensamento nas culturas náhualt, pois esse era um momento de grande fluxo cultural e pode ser descrito como um período áureo conhecido como renascimento tolteca, aonde as idéias da antiga metrópole parecia ganha vida. E nesse cenário de renascimento de fluxos de idéias que Teotihuacán assumiu um lugar mítico como uma espécie de gênesis dessa nova cultura hibrida. Do ponto de vista histórico podemos dizer que todo desenvolvimento cultura se iniciou em Teotihuacán, arquitetura, religião, progresso material e o calendário religioso que surgiria nessa cidade, é a parti de Teotihuacán que o vale iria conhecer a civilização.

Outros elementos que figuram no texto são de importância para compreensão do pensamento que os mexicanos iriam adotar, é a mensagem de que o sol precisava de alimento e esse alimento era o sangue humano, que os próprios deuses, como exemplo á se segui, se ofereceram como sacrifício e entregaram o seu sangue ao sol, assim desde cedo esse pensamento do sacrifício ligado ao medo do fim do quinto sol, dominaria o pensamento mexicano de forma patológica fazendo com que os mesmo transformassem os sacrifícios humanos em uma verdadeira indústria. Nele também vemos uma espécie de protótipo ideal de homem mexicano; o guerreiro modesto que enfrenta a morte sem temê-la, aquele que se deixar sacrificar pela manutenção da sociedade e do cosmo. Esse pensamento iria molda o pensamento guerreiro mexicano.
Por último encontramos o duelo entre o sol e a lua que para os mexicanos assumiria forma da constante luta entre o deus Sol-Huitzilopochtli e de sua irmã, uma feiticeira que aliada aos seus outros irmãos lutam durante a noite, no momento em que o sol esta fraco, para tomar o seu poder. Assim havia sempre o medo de o sol não nascer, o medo do fim da quinta era e para evita esse cataclismo era preciso nutri o sol como o alimento mais poderoso da terra, o sangue humano, pois somente através do sacrifício que o sol poderia continuar a se mover. 



O novo sol em Teotihuacán

Diz-se que quando ainda era noite, quando não havia luz, no tempo sem manhã dizem que se reunirão chamando um aos outros em Teotihuacán.
Disseram e falaram entre si.
- Vinde, oh deuses! Quem tomara sobre si este fardo? Quem levara nas costa? Quem iluminara e quem trará o amanhece?
Em seguida um entre eles falou, ali apresentou seu rosto Tecuciztécatl e ele Disse:
- Oh deuses, em verdade será eu.
Outra vez disseram os deuses.
- Haverá outro mais?
Em seguida todos se olharam entre si se fazendo ver o que pensavam e disseram:
- Como será? Como faremos?
Ninguém se atreveu a se candidata. Todos os grandes senhores manifestaram seu temor e retrocederam. Nada se fez ali visível.
Nanahuatzin, um desse que estava ali reunido permanecia calado e escutando. Então os deuses se dirigiram a ele e disseram:
- Tu! Tu serás Nanahuatzin!
Ele então se apressou a recolher a palavra e a tomou em boa conta e disse:
- Estar bem, deuses. Tem me feito um bem.
Em seguida empenharam a fazer penitencia. Quatro dias jejuaram, Nanahuatzin e Tecuciztéctal. Foi quando acenderam o fogo e ardeu a fogueira, que eles chamaram de fogueira divina.
E Tecuciztécatl ofereceu penitencia com que tinha de precioso: seus ramos de abeto era tal qual pluma de quetzal, suas bolas de grama eram como ouro e seus espinhos de jade. Com as espinha ensangüentada pelo coral e seu incenso era o mais genuíno incenso de copal.
Pois de Nanahuatzin suas ramas de abetos eram de canas verdes, canas novas em feixe de três, todas atadas ao um conjunto de nove.  E suas bolas de gramas eram genuínas barbas de anotas, e suas espinhas eram genuínas espinhas de manguey. E com ela ele realmente se sangrava. Seu copal por certo era aquele que saia de duas feridas.
E cada um deles fez penitencia em seus respectivos montes durante quatro noites. E dizem agora que esse monte são as pirâmides: a pirâmide do sol e a pirâmide da lua.
Quando terminaram as quatro noites de penitencia vieram a jogar por terra os ramos de abetos e tudo aquilo que tinham usado para fazer a penitencia. E tudo isso foi feito. Se levantando em meio à noite para que se cumprisse seu ofício e se converterem em deuses. E na meia-noite eles puseram nas costa suas cargas, seus atavios, seus adornos. A Tecuciztécatl lhe entregou seu tocado redondo de plumas de garça e também seu chalequillo e a Nanahuatzin somente papel e com ele cingiu sua cabeça, cingiu seus cabelos. Seu nome, seu tocado, seus atavios e suas treliças eram de papel.
Feito tudo isso quando deu meia-noite todos os deuses se reuniram enfrente a fogueira que chamava fogo divino e que por quatro dias havia ardido. Por ambas as partes se colocaram em fila os deuses. E no meio deixaram de pé aquele que se nomeava Tecuciztécatl e Nanahuatzin e os colocaram de face voltada para o fogo divino.
Em seguida falaram os deuses e disseram a Tecuciztécatl:
-  Tenha valor oh Tecuciztécatl, lance-se, jogue-se no fogo.
Sem muito tarda foi esse se jogar no fogo. Pois quando sentiu o ardo do fogo, não pode resisti. Não lhe foi suportável e não pode tolerá-lo. Estava bastante quente o fogo, um fogo abrasado que ardia e ardia. Por isto ele veio a ter medo, veio a paralisar-se e veio a voltar atrás em seu intento. Ele retrocedeu. Uma vez mais ele reuniu todas as suas forças tomando a resolução de se lançar e se entregar as chama. Pois mais uma vez ele não conseguiu, pois quando sentia o calor ele regressava e desistia. Por quatro vezes, quatro vezes ele tentou mais não conseguiu se lançar nas chamas.
Após tentar quatro vezes, assim falaram os deuses a Nanahuatzin:
- Agora é tu, agora é tu Nanahuatzin, que seja você.
E de uma só vez Nanahuatzin enfrentou o calor, concluiu o negócio, se fez forte teu coração e fecho os olhos para não senti medo. Não deteve nenhuma só vez e não regressou. Jogou-se, lançou-se ao fogo de uma só vez. E de uma só vez ardeu seu corpo que crepitou nas chamas.
E quando Tecuciztécatl viu que ele ardia, ele também se lançou no fogo. E rapidamente ele ardeu.
E como dizem e se referem, então tomou vôo uma águia, o os seguiu se lançando de súbito no fogo, e se lançando na fogueira quando, todavia eles ardiam. Por isso suas plumas são escuras e estão sempre queimadas. E também se lançou a onça quando o fogo já começava a se extinguir. Por isso ela somente se pintou, se manchou com o fogo, se queimou. E não ardia muito o fogo, por isso só esta manchada, por isso somente tem mancha negras, somente esta salpicadas de negro.
Por isso dizem que ali esteve que ali se recolheu a palavra; eis o que se dizem eis o que se referem: aquele que é capitão, varão esforçado se chama águia e tigre. Vem se primeiro águia, segundo se dizem por que ela entrou primeira no fogo. E a onça (ou tigre já que nos texto náhualt onça foi sempre traduzida pela palavra tigre, que era as duas legiões de guerreiros no exercito mexicano) vem depois. Assim se pronuncia conjuntamente águia-tigre, porque este último caiu depois no fogo.
Assim se sucedeu: quando os dois se jogaram no fogo e se queimaram os deuses se sentaram e aguardaram para ver por onde sairia Nanahuatzin, o primeiro a cai no fogo para surgi como o sol e trazer a alvorada.
Quando se passou um longo tempo pela qual esperou os deuses, começou então a surgi tons púrpuras que circundava por toda parte, era a aurora, a claridade da luz. E como dizem os deuses caíram de joelhos esperando ver por onde sairia o sol. E por toda a parte eles olhavam sem direção fixa a circundar sua vista por todo horizonte. E em nenhum lugar com suas palavras e seus conhecimentos chegaram a um consenso. Nada coerente puderam falar. Alguns pensaram que iria sair da direção dos mortos, o norte, e para lá olhavam fixamente. Outros da direção das mulheres, o poente. Outros mais da região dos espinhos e para lá quedaram sua visão. Por toda parte pensaram que sairiam, pois por toda parte a claridade do sol iluminava.
Pois alguns quedaram olhando em direção a cor de vermelho vivo, o oriente e dissera:
- Em verdade de lá, de lá saíra o sol.
Foi verdadeira a palavra destes, que para lá olhavam e faziam o sinal com o seu dedo. Como dizem aqueles que para lá olhavam foi Quetzalcóatl, o segundo de nome Ehécatl e Tótec e o senhor de Anáhuatl e Tazatlipoca vermelho. Também aquele que se chamava Tiacapan, Toicu, Tlacoiehua, Xocóiotl. E quando o sol veio a sai, quando veio se apresentar, apareceu como se estivesse pintado de vermelho. Não podia ser contemplado seu rosto, pois feria os olhos das pessoas, pois seu brilho era muito forte, lançava os raios de luz e seus raios chegavam a todas as partes e a radiação de seu calor a tudo penetrava.
E depois veio sair Tecuciztécatl que ia seguindo; também via da direção da cor vermelha, o oriente, junto com o sol ele veio se apresentar. Do mesmo modo como vieram cair eles veio sair, um seguindo o outro. E como se diz e como se narra, que eram da mesma aparência e a tudo eles iluminavam. Quando os deuses o viram que eram iguais em aparência, de novo uma vez mais convocaram um conselho e disseram:
- Como haverá de ser oh deuses? Por acaso dois juntos seguiram o caminho? Por acaso assim haverá de iluminar todas as coisas?
Pois então todos os deuses tomaram uma decisão e disseram:
- Assim haverá de ser, assim haverá de ser.
Então um desses senhores, dos deuses, saiu correndo. Com um coelho foi feri o rosto de Tecuciztécatl e assim escureceu o seu rosto, assim feriu o seu rosto como agora se ver.
Porém ambos continuavam seguindo juntos e tão pouco podiam se move e nem segui seu caminho. Somente ali permaneciam parados. Por isso uma vez mais disseram os deuses:
- Como haveremos de viver? Não se move o sol. Acaso introduziremos a uma vida sem ordem os Macehuales, os seres humanos? Que por nosso meio se fortaleça o sol. Morramos todos!!!
Logo foi o oficio de Ehécatl dar morte a os deuses. Mas Xólotl falou aos deuses que não queria morre.
Assim houve muito pranto, se incharam os olhos, se incharam as pálpebras. E a ele se acercava a morte e ante ela ele fugiu se meteu na terra de milho verde, se alargou o seu rosto, se transformou e se quedou em forma de milho divido que chamam o camponês de nome de Xólotl. Pois dentro da semente do milho foi visto. Uma vez mais se levantou diante deles e fugiu para os campos de magueyes. Também se converteu em magues de xólotl. Pois uma vez mais foi visto e se meteu dentro d`água e veio a se converte em ajolote, em axólotl. Pois ali vieram a colhê-lo e assim lhe deram a morte.
E dizem que todos os deuses morreram, e não é que com isso o sol se moveu, com isto pode seguir seu caminho ele o deus Tonatiuh. Então foi o oficio de Ehécatl por de pé o vento, e com ele empurrá-lo. Assim pode mover-se o sol, pode segui seu caminho. E quando este andava, quedava-se a lua parada. E quando via o sol se esconder então a lua começava a se mover. Assim se separou, cada um seguiu para seu caminho. Saia uma vez o sol a cumpri seu oficio durante o dia e a lua fazia seu ofício noturno a passar a noite a completar o seu labor.
Daqui se vê daqui se diz que aquele podia ter sido o sol, Tecuciztécatl, se primeiro tivesse se jogado ao fogo. Porque ele primeiro se apresentou para fazer penitencia com todas as coisas preciosas.
Aqui acaba este relato, este conselho. Destes tempos antigos se referiam a isso os anciões, que tinha a função de conservá-lo.





 Glossário 

Maguey – São plantas as vezes enormes, grossas e carnosas que formam um imenso casulo que finalmente se abre todo quando floresce a cabo de vários anos. Delas obtém os índios toda classe de produtos: vinho, fibras, papel, combustível.

Ehécatl - "Vento", "ar", "vendaval". Nome de Quetzalcóatl em sua invocação ao deus do vento.

Macehuales – Os merecido de penitencia. Nome pela qual os homens são conhecido pois sua existência somente veio se realizar graça a penitencias dos deus.
Xolotl: Etimologia incerta de xolochtli: "enrugado". Era um deus, originalmente de pouca importância, que se recusou a ser imolado como os demais deuses no momento da criação do homem. Salamandra: AXOLOTL, salamandra aquática mexicana, notável por se manter sempre e se reproduzi em estado larval, sem nunca chegar à forma adulta. Passou a se considerado uma espécie de ser capaz de se adaptar as formas mais monstruosas. Irmão gêmeo de Quetzalcóatl considerado seu oposto no físico e no caráter.
Tonatiuh: Do verbo: "brilhar", "iluminar" terminação no futuro equivale a fazer brilhar, o que faz o dia, ou simplesmente o sol.
Tecuciztécatl: Senhor dos sinos.

Bibliografia:
GUERRERO, José Luis “Flor y Canto del Nacimiento de México”, Ed. Digitalizada.
-  Literatura del Mexico antiguo; Ed. Digitalizada.
-LÉON-PORTILLA, Miguel “Los antiguos Maxicanos a através de sus crónicas y cantares”: Ed . Digitalizada.
- Documentário “ Arquitetura secular; pirâmide da morte” produção National Geographic.
-DREW, Davis “las crónicas perdidas de los reyes mayas”; editora siclo veintiuno, Ed. 2002.



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